Por Vânderson Domingues


Dia desses estava em uma reunião de amigos quando surgiu uma conversa de tema muito controverso: a comunicação com os mortos. 

É sabido aos leitores da bíblia que Jesus se comunicou no alto da montanha com Elias e Moisés que já estavam mortos [1]. Em alguns meios cristãos se defende que Jesus o fez, pois era a ele dado o direito, como encarnação de Deus na terra.

Essa explicação sempre me pareceu paradoxal. Se para o cristianismo Jesus é um Mestre, um exemplo do Caminho, como poderia quebrar as regras divinas?

Dessa forma, do ponto de vista místico, talvez seja possível considerarmos a interlocução com pessoas desencarnadas. Entretanto, o que coloco para refletirmos hoje traz outra questão para esse tema: “- Devemos buscar a comunicação com os mortos?”, ou ainda, - Por que devemos ser cautelosos ao buscar a comunicação com os mortos?”.

Para analisarmos essa interrogativa é preciso que haja a compreensão de dois pontos esotéricos principais:

1 - As comunicações espirituais se dão habitualmente com seres no plano astral*;

2 - Existem algumas categorias de espíritos humanos nesse plano**.

Assim, quase todas as comunicações com os espíritos se dão através de seres que vibram no astral por este ser mais “acessível” à dimensão terrena. Geralmente, ou o espírito vibra na frequência dessa dimensão, ou então de alguma forma conseguiu emanar sua energia até passar por ela e chegar ao encarnado.

Por sua vez, os espíritos dessa faixa vibracional estão em algumas categorias, dentre elas: impostores (ou malévolos)iludidosbem intencionados e doentes. Os espíritos impostores negam o caminho divino e lutam contra esse fluxo, estão em um estado de consciência que pode influenciar de modo muito maléfico aos encarnados que se deixam levar pelas suas palavras falsas e entram em seus campos energéticos. Em regra, são espíritos que não se libertaram dos apegos e sintonizam aos que podem lhes dar algum tipo de satisfação mundana. Em muitos casos os espíritos impostores se passam por iluminados, bem intencionados ou doentes, para envolver os encarnados.

A outra categoria que podemos citar é a dos espíritos iludidos. Essa classe de espíritos na maioria das vezes acredita que sabe dos desígnios plano divino e tenta ajudar os seres humanos encarnados. Porém, vivem numa ilusão de sabedoria e iludem os que os escutam. Podemos identificá-los comumente por mensagens genéricas e vazias, sem consistência e/ou profundidade. Eles guiam pessoas desesperadas que os procuram, para satisfazerem a autoilusão do ego. Como na parábola bíblica são "cegos guiando cegos” [2].

O terceiro grupo do astral se dá pelos espíritos bem intencionados. Essa categoria compreende o estado vibracional em que se encontra, sabe que apenas desencarnou e não se iluminou ainda. Eles podem fazer o papel de mensageiros divinos através dos seres mais sutis. De qualquer forma eles não têm acesso a Verdade, no máximo a um fragmento reduzido dela. Esses espíritos são mais ou menos como pessoas de bom coração, mas que ainda possuem percepções falíveis e limitadas como muitos de nós.

Existem ainda os seres doentes desse plano que realmente precisam de ajuda, pelo sofrimento em que se encontram. Mas é relativamente complexo distinguir um espírito doente de um engodo por parte de um impostor e o comunicante pode se perder facilmente sem saber como proceder.

Nesse sentido, é possível encontrar uma gama de rituais de ajuda aos mortos com ou sem diálogo direto em muitas tradições espirituais, como o dia dos finados e missa para os defuntos no catolicismo, as sessões mediúnicas no espiritismo e o livro tibetano dos mortos, no budismo.

Contudo, os espíritos sutis, iluminados e Mestres vibram em outras frequências como as do plano Búdico, Nirvânico, Monádico e Divino. Por isso, é preciso que o aspirante a se comunicar com o “além” saiba da alta probabilidade de ficar a mercê de forças ambíguas e ser prejudicado em sua vida pessoal e aprendizados terrenos.

Além disso, os espíritos fazem parte do “mundo espiritual”, eles não são o mundo espiritual. O plano espiritual está repleto de seres variados, formas, energias, elementais, cores, sons e vibrações pluridimensionais. Desenvolver faculdades de comunicação direta com espíritos do astral não indica avanço algum, qualquer um que se dedique pode desenvolver tais “poderes”. As faculdades psíquicas/espirituais (sejam elas quais forem) aparecem naturalmente de acordo com o momento da caminhada, a necessidade e/ou preparo de quem se desenvolve e não ao contrário.

Segundo espiritualistas, outro contraponto muito importante sobre a comunicação com os mortos se dá pelo fato de estarmos chegando ao momento terreno de evoluir para a quinta dimensão. A revolução índigo [3] propiciando a transição para uma era cristal [4] na Terra tem sido amplamente abordada pelos estudos da ciência holística e devemos compreender que caminhamos para uma humanidade que dispensará o papel centralizador do "médium", pois todos terão consciência e acesso ao "mundo espiritual".

O que se pode colocar em voga também é a real necessidade de uma comunicação desse tipo: Orientação amorosa, financeira, familiar...? Nenhum espírito sutil nos diz o que fazer. O espírito desenvolvido compreende plenamente que estamos em processo de aprendizado e nos deixa fazer escolhas por se tratarem do carma individual.

Do mesmo modo, os espíritos iluminados não fazem questão de aparecer, muito menos de usar o corpo de outrem para isso. Eles simplesmente fazem o trabalho de inspirar, guiar e proteger os caminhos da Terra e seguem sua jornada ininterrupta de caridade. Raros são os casos em que se tornam necessários que seres dessa hierarquia se façam notar aos encarnados.

Segundo a Teosofia, quando seres de dimensões mais expandidas se comunicam é geralmente por meio de canalização que difere da psicofonia notoriamente, pois nela o canalizador é um interprete de um estado semelhante a uma avançada telepatia e não há “posse” temporária dos sentidos do encarnado.

Todavia, para fazermos uma comunicação dessa natureza é preciso estar num processo de purificação em todos os níveis (físico, emocional, mental e espiritual/energético), e conhecermos nossas limitações para saber diferenciar o que vem do eu-inferior e o que vem da mensagem divina propriamente dita.

É possível considerar também que a busca por comunicações mediúnicas sejam estimuladas em parte por uma dificuldade humana de lidar com a morte. O mistério da "vida no além" aflora medos, apegos e incertezas, pode gerar uma ansiosa procura por orientações rápidas, respostas prontas, típicas de nosso contexto social (pós) moderno.

Mas é preciso lembrar que o caminho espiritual não tem atalhos. É uma construção pessoal gradativa que se compara a de um artesão tecendo pacientemente sua obra.

Assim, quando juntamos a pequena possibilidade de uma mensagem ser genuína e/ou benéfica ao provável filtro falível do encarnado, temos um percentual muito baixo de confiabilidade dessas comunicações. Se somarmos ainda as motivações comuns para esse tipo de contato, temos usualmente um contexto de sentido duvidoso para essa prática.

Dessa forma, antes de buscarmos desvairadamente por respostas de seres do além, talvez seja interessante observarmos até que ponto isso pode ser válido para a nossa caminhada.

Talvez seja importante também refletirmos outras possibilidades para suprir a nossa demanda espiritual: o de integração do Ser partindo do autoconhecimento e do contato com o Eu-Superior. Dessa Fonte (Eu-Superior) é possível acessar a Consciência Cósmica em harmonia com toda dimensão Espiritual da Verdade.

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* Segundo Leadbeater, a Teosofia existem sete dimensões da Realidade: Plano Físico, Astral, Mental (inferior e superior), Búdico, Monádico e Divino.

** Na Teosofia o Mundo de Desejos também é conhecido como plano astral. Concordando com outras correntes, a Teosofia diz que este é um plano de existência intermediário entre o mundo físico e o mundo mental ou celeste, uma região onde a vida é mais ativa e as formas mais plásticas que no plano físico, formas que estão sujeitas à influência do pensamento. As entidades que aqui vivem - elementais, devas inferiores e pessoas mortas há pouco tempo - podem mudar seu aspecto simplesmente pensando em uma dada forma, sendo sumamente fácil para seres brincalhões ou mesmo malévolos enganar os que não foram preparados para reconhecer tais ilusões. É o reino das emoções e desejos por excelência, onde eles são sentidos em toda sua intensidade sem o efeito amortecedor causado pelo corpo físico mais denso. https://pt.wikipedia.org/wiki/Plano_espiritual

*** Texto pulicado em 2011 e revisado em 2025.


Referências

[1] Evangelho de Mateus: 17; 1-8

[2] Evangelho de Lucas: 6; 39

[3] http://www.flordavida.com.br/HTML/indigo.html

[4]http://www.comunidadeespirita.com.br/reflexoes/criancaindigo/criancas%20cristal%20e%20suas%20caracteristicas.htm

CAÑETE, Ingrid. Adultos Índigo. 1 ed. Editora: ‎Novo Século, 2008.

LEADBEATER, Charles. Os Mestres e a Senda. 11 ed. São Paulo – SP. Pensamento, 1975.

MURPHET, Howard. Entendendo a morte: Um estudo fascinante sobre um dos maiores mistérios da vida. 10 ed. São Paulo – SP: Pensamento, 1998.