Para Aristóteles, “Sem amigos ninguém escolheria viver, mesmo que tivesse todos os outros  bens”. O filósofo chega a definir a amizade em três tipos, inclusive. Eu, no entanto, compreendo que as relações humanas, seja a amizade ou quaisquer outras, não são simples de se definir por tantas nuances que surgem em suas dinâmicas e, portanto, não me atrevo a fazê-lo. Prefiro, em alguma medida, como posto na música dos Novos Baianos, perceber a amizade como uma "lei natural dos encontros" em que "Eu deixo e recebo um tanto". Porém, talvez em 1997 eu ingenuamente nem soubesse do enorme desafio de "mapear" a amizade quando resolvi abordar numa poesia os caminhos que a amizade pode trilhar, inclusive o da ausência do/a outro/a na vida concreta. Nesse sentido, este soneto de versos Alexandrinos, parece refletir esse olhar mais romântico de outrora sobre a amizade: 

À uma amiga

Ah, há quanto tempo não a vejo, minha amiga!
Os belos conselhos que você bem me dava...
Saudoso, recordo-me das nossas compridas
conversas: Vozes doces que o vento escoltava.

Mas ficou o bom intuito para a eternidade.
Carrego como uma arma forte e destemida 
A força e a fé me passadas com humildade
Em todo o gesto seu - inestimável amiga.

E espero em um dia breve retornar a vê-la
Ainda mais feliz e risonha do que nunca.
Com a vida, talvez, de aptidão diferente...

Porém, nem me importo; direi na sua orelha
junto a um abraço longo: "Vê, não há bronca
ao sumiço - já sei que é amiga!" - simplesmente.

(Vânderson Domingues, 1997)
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