Heráclito, filósofo pré-socrático, afirmava que “O mesmo homem não se banha duas vezes no mesmo rio, pois outras serão as águas, e outro será o homem". Assim, para o filósofo“O mundo é um eterno devir" já que a realidade está em constante mudança e "Nada está pronto, tudo está em permanente construção, desconstrução e reconstrução.". Mas vale ressaltar que, apesar do devir ser constituinte da existência, ele não está dado (pelo menos socialmente) e é preciso afirmá-lo, ou seja, o que se impõe diariamente é a captura que agenda modos de vida que nos engessam em uma ideia de identidade fixa, de rotina - como diria o filósofo Deleuze - enfadonha e desesperada. Em outras palavras, exercer o devir é também superar a lógica de repetição hegemônica em prol de um vida criativa: 

DEVIR

Ouso sair de mim
Para fora de ensimesmado
À sala, cozinha, sótão e porão
Perpasso milhares de rastros diários 
Mas ali e acolá não estou
Apenas o reflexo distorcido 
Que ora penso distraído que eu sou
Nos objetos estéticos de petróleo estático
(Protético-vazio-betume)
Do eu sem substância
Do ser lançado no mundo
Em eterna relação impermanente: 
Criar, desmoronar, recriar
C-o-n-t-i-n-u-a-m-e-n-t-e 
O vir-a-ser na realidade: 

(Vânderson Domingues, 2019)
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